terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Os sistemas operacionais tradicionais estão com os dias contados?

O blogueiro da Infoworld Neil McAllister comenta sobre a nova filosofia de programação que vai deixar irrelevante os tradicionais SOs.

Por Infoworld/EUA
05 de janeiro de 2009 - 07h00

A primeira versão beta do Chrome foi anunciada no início de setembro.

O navegador do Google é apenas o primeiro exemplo da nova filosofia no desenvolvimento de aplicações. Esta nova estratégia pode mudar a maneira de ser da TI como nós sempre a vimos. O ponto central deste novo credo: aplicações são tudo; o sistema operacional é irrelevante.

Usuários, não administradores
A instalação e a atualização do Chrome passam longe do modelo tradicional de sistema operacional.

Para começar, o navegador do Google não se instala dentro da pasta de aplicações. Ao contrário, ele se instala no diretório principal do usuário. Assim, os usuários não precisam de privilégios administrativos para instalá-lo.

Além disso, o Chrome instala um serviço em background, o Google Updater, que procura silenciosamente por atualizações enquanto o usuário navega. Se encontra, faz o download e instala automaticamente, sem notificar o usuário do que está fazendo.

A lógica por trás disso é que um navegador completamente atualizado é a melhor defesa contra malware e ataques via web. Em vez de ensinar os usuários, o Google simplesmente faz isso para eles.

Mas em um ambiente de TI corporativo, com normas organizadas, o modelo do Chrome tem implicações importantes. E o Chrome é apenas uma das novas aplicações que, discretamente, está subvertendo os papéis tradicionais em TI.

Uma única interface gráfica para tudo
Veja o Adobe AIR. A plataforma AIR usa não apenas um instalador diferente, mas também um widget para download completamente diferente da janela tradicional do navegador de download. O usuário já nota pela aparência de que não se trata do procedimento de instalação tradicional em sistema operacional.

Ao iniciar o AIR, você não vê menus, botões e outras características tradicionais das aplicações em desktop. Você vê uma interface de usuário (UI) construída com Flash, HTML e outras tecnologias da web.

Já foi muito discutido como esse tipo de estrutura simplifica para os desenvolvedores escreverem aplicações ricas para internet (rich applicantions); mas os benefícios vão muito além.

Quando, em 1987, a Apple publicou o seu guia de interface do Macintosh, a idéia era garantir que os usuários do Mac OS teriam benefícios de ter uma aparência constante nos vários produtos. A prática continua até hoje e é seguida pela Microsoft.

Mas as aplicações do AIR não se preocupam com isso. Elas são parecidas com o que o designer quer, nem mais, nem menos. Por definição, estas aplicações são neutras em sistema operacional – existem além e com a mesma aparência rodando sobre a Apple, Microsoft ou outro fabricante.

Território hostil?
As mudanças não são coincidência. Voltemos ao Chrome. Até agora, o navegador do Google está disponível apenas para o Windows, mas ele não parece em nada com uma aplicação tradicional para Windows. Não há ícones ou nome no alto da janela, não há menu com opções. Existem tabs. Esta não é a visão da Microsoft, mas a do Google.

E isto apenas na janela do Chrome. E o que o Google vê dentro dessa janela? Aplicações – aplicações que não precisam ser instaladas, não precisam se instalar no sistema operacional, nem de patches ou upgrades. Dentro desta janela existe o mundo do Google; sem fornecedores de SO.

Não é a toa que grandes companhias de software estão nervosas. "Muitas empresas estão usando o navegador e vendo o navegador como uma maneira de progredir o seu próprio negócio, em vez de criar um ecossistema. O navegador é um território hostil," disse o CEO da Sun Jonathan Schwartz.

Schwartz não está preocupado com o seu sistema operacional, o Solaris. Ao contrário, ele está preocupado com este tipo de nova aplicação roubando espaço do Java, o preferido dos fornecedores de SO.

Recentemente, a Sun lançou o JavaFX para colocar o Java disponível para aplicações que a Adobe e o Google querem fazer. Segundo Jeet Kaul, vice-presidente de Java da Sun, "Você pode criar um tocador de mídia, rodar no navegador e simplesmente arrastar para o desktop e ele vai se tornar uma aplicação no desktop automaticamente. É o mesmo código, a mesma aplicação."

O que esse tocador não é, no entanto, é uma aplicação comum para Windows ou Mac OS X.

Novo rosto para TI
Se a tendência continuar, as conseqüências serão profundas.

Para os desenvolvedores, pode significar a liberdade no design de aplicações e o final da submissão aos fabricantes de sistemas operacionais. Já para os consumidores, pode culminar em uma nova era de computação em que os computadores robustos rodando aplicações binárias e monolíticas saem de cena, dando espaço para novos dispositivos.

Para a área de TI, no entanto, o futuro está nublado. A integração do SO com aplicações e servidores em rede significou a base do sucesso da Microsoft nas empresas.

Se os usuários tiverem o poder de instalar as suas próprias aplicações, com updates e patches automáticos, sem a interface tradicional do SO, estas aplicações ficam fora do suprote e governança de TI atuais.

Os sistemas operacionais podem se tornar irrelevantes em muito pouco tempo. O processo para isso já começou. A pergunte que fica é: estaremos prontos para isso?

Nenhum comentário: