terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cloud computing: fornecedores criam modelos próprios

Primeiras ofertas estruturadas de computação em nuvem chegam ao mercado adaptadas ao gosto do freguês e aos interesses dos fornecedores.

Por Fábio Barros, do COMPUTERWORLD
13 de janeiro de 2009 - 07h43

Tecnicamente, o conceito de cloud computing parece consolidado. Analistas e especialistas concordam tratar-se de computação feita em servidores numa nuvem que conta com enormes recursos de processamento e grande capacidade de armazenamento de dados. Em tese, esta nuvem elimina a dependência de um hardware específico para cada aplicação, ou grupo de aplicações, permitindo que recursos de computação sejam provisionados de acordo com as necessidades do usuário, que passa a utilizar TI como utility, pagando por processamento.

Tecnicamente é isso, mas na prática o conceito chega ao mercado recheado com os diferentes sabores adicionados pelos fornecedores. Como uma nuvem de fato, cada um tem dado a ela a forma que melhor atende seus clientes e, claro, seus interesses, o que deve ser levado em conta pelas áreas de TI que pretendem usar o modelo. Por enquanto, o mercado assiste à formação de dois grupos específicos: o das empresas nativas em cloud e o dos tradicionais fornecedores de aplicativos.

No primeiro grupo, companhias como Google e Salesforce.com – para ficar apenas com as que atuam no Brasil – concordam com a teoria de Nicholas Carr segundo a qual o cloud computing deve evoluir e crescer de tal forma que as áreas de TI perderam sua função em alguns (muitos) anos. “Acreditamos que o cloud é o futuro. É um modelo tecnológico e econômico que traz muitas vantagens aos usuários, que não precisam ser técnicos para compreendê-lo”, afirma Enrique Perezyera, presidente da Salesforce.com para a América Latina.

José Nilo Martins, gerente do Google Enterprise no Brasil, vai pelo mesmo caminho. “O cloud vai trazer uma melhoria de valor e conveniência nunca antes vista no mercado de TI. É o que vai concretizar uma promessa de redução de custos muito grande na área de TI”, acredita. O discurso funciona bem, mas na prática a atuação das duas empresas no Brasil ainda mostra musculatura suficiente para comprovar a tese.

A área de soluções corporativas do Google opera no País desde abril deste ano e tem todas as suas ofertas em nuvem rodando em algum dos 40 data centers da companhia no mundo. De acordo com Martins, as soluções oferecidas mudaram bastante de lá para cá. “O Google Apps hoje é bem diferente. Hoje ele conta com soluções específicas para empresas que são bem mais baratas quando se considera o valor necessário para compra de software e infra-estrutura”, afirma Martins.

Na cesta de ofertas do Google estão aplicativos ainda distantes das chamadas missões críticas, como e-mail, instant messaging, VoIP, calendário, gerenciamento de conteúdo, antispam, antivírus e, recentemente, o Google Vídeo, considerado um YouTube corporativo. Na média, os aplicativos podem ser comprados por valores que vão de 75 dólares a 80 dólares anuais por usuário e Martins diz garantir um SLA de 99,9%.

Procurando se aproximar mais do core de seus clientes, a Salesforce oferece hoje aplicativos de automação de força de vendas, de serviços técnicos, administração de conteúdo, gerenciamento de parceiros e redes sociais corporativas, estas últimas por meio da Ideas.com. Para Perezyera, o segredo da empresa, e de outras nativas, como Google, Amazon.com e Facebook, está na facilidade de uso. “Essa foi nossa origem”, decreta.

Apesar de afirmar que o objetivo da companhia – hoje com 51 mil clientes no mundo, mais de mil deles na América Latina – é permanecer na área de CRM, o executivo lembra que a companhia vem trabalhando com o objetivo de se tornar uma plataforma mais ampla com a participação de parceiros. À exemplo do Google Apps Engine, voltado a desenvolvedores, a Salesforce mantém parcerias com cerca de 50 mil desenvolvedores e 800 software houses que criam aplicativos integráveis às suas soluções. Todos eles rodam na estrutura da empresa e podem ser adquiridos em uma loja virtual mantida no site.

Modelo híbrido
Enquanto as empresas nativas apostam em uma potencial onipresença da nuvem, os tradicionais fornecedores de software procuram criar meios para que ela conviva com o modelo de licenças. Para estas empresas, o cloud ainda não é uma realidade, embora algumas delas contem com algumas ofertas.

O grupo Totvs é um exemplo. Weber Canova, vice-presidente de tecnologia e inovação da companhia, diz que o cloud computing ainda é um objetivo a ser alcançado e reconhece que o mercado ainda está no campo das tendências. “A confiança parece estar vindo de empresas que adotaram o modelo primeiro, e estão obtendo bons resultados”, diz.

O grupo oferece seus aplicativos de gestão no modelo de nuvem, que é mantida nos data centers de São Paulo e de Joinville (SC) e mantém uma parceria de desenvolvimento com a Salesforce, com quem desenvolveram uma solução específica para a área de logística. “O conceito que vendemos é o de operador administrativo. Temos um leque de soluções para que o cliente escolha o que quer na nuvem”, explica.

Dar opções ao cliente parece ser a postura mais comum entre os fornecedores tradicionais. É o caso da Microsoft, para quem a nuvem deve ser tratada como mais uma alternativa a mais. Otávio Pecego Coelho, arquiteto de soluções sênior da Microsoft Brasil, conta que algumas delas já estão disponíveis no mercado brasileiro por meio do BPOS (Business Produtivity Online Services). Ali as empresas podem encontrar aplicativos como SharePoint e Exchange, com opção de hardware dedicado ou compartilhado.

O serviço pode ser contratado diretamente da empresa ou de parceiros como Diveo e Accenture. Isto hoje. Com a chegada do Windows Azure – o que só deve acontecer nos Estados Unidos em um ano – há uma tendência de sofisticação destas ofertas. “O Azure é um sistema operacional que gerencia operações em nuvem. Sobre ele haverá um conjunto de serviços, como troca de mensagens e identidade, que serão oferecidos nos nossos data centers”, explica.

Como o Google, a Microsoft prefere não apostar, pelo menos por enquanto, suas fichas em aplicativos de missão crítica. “Muitas empresas gostam de ter controle sobre suas aplicações. O que temos feito é trabalhar para que o usuário tenha as duas opções”.

Mais cautelosa ainda, a IBM não acredita que o cloud computing deva se estabelecer de vez em 2009. Cezar Taurion, gerente de novas tecnologias aplicadas da empresa no Brasil, acredita que os primeiros usuários devem fazer apenas provas de conceito. Ele diz existirem hoje dois tipos de nuvem: públicas e internas e defende que o conceito seja testado, inicialmente, dentro das empresas.

“Hoje temos um ambiente colaborativo, em beta, para clientes, chamado Blue House, e uma solução para criação de nuvens internas, chamada Blue Cloud. Nossa proposta é ajudar as empresas a construírem suas próprias nuvens e, à medida que o conceito for se consolidando, elas devem ganhar amplitude, até chegar às nuvens públicas”, explica.

De todo modo, Taurion acredita que 2009 marcará o início da curva de aprendizado. “O tema está no radar e sentimos muita curiosidade do mercado. Mas este ano tudo deve permanecer ainda um pouco confuso”

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