quinta-feira, 16 de julho de 2009

Quanto você quer pagar por sua licença de software?

Ao mesmo tempo em que diversificam seus modelos de oferta de software, fornecedores dificultam processo de gestão dos líderes de tecnologia da informação.

Por Andrea Giardino, do Computerworld

14 de julho de 2009 - 07h00

O aumento do leque de opções na compra de software – que ganhou um componente extra com o conceito de computação em nuvem - tem criado um verdadeiro teste de múltipla escolha para os líderes de TI: decidir qual o melhor formato de licenciamento entre os inúmeros disponíveis no mercado brasileiro. A vantagem é que, neste caso, eles podem escolher mais de uma opção.

Para se ter ideia, há nove modelos oferecidos hoje pelos fornecedores. “Diversidade que levará os diretores de TI a manter diferentes tipos de contratos para atender às suas necessidades específicas”, afirma o sócio da TGT Consulting, Pedro Bicudo. Apesar dessa multiplicidade, hoje os modelos mais adotados pelas empresas são: proprietário, aluguel e o software como serviço (da sigla em inglês, SaaS).

Embora a diversidade no portfólio de ofertas seja extremamente saudável para a dinâmica do mercado, por outro lado, causa uma enorme dor-de-cabeça para os CIOs em administrar não só os múltiplos fornecedores como os vários modelos de contrato. “Há tantos tipos de licença que em nosso departamento jurídico existe um advogado que está virando quase um especialista em contratos de software”, afirma o diretor de tecnologia do grupo Martins, Flávio Lucio Borges Martins. A empresa é um dos principais distribuidores atacadistas do País.

Mas os problemas não param por aí. Martins reclama dos absurdos que têm encontrado nas formas de cobrança. O executivo lembra uma situação vivida por sua empresa por quase um ano. Um de seus inúmeros fornecedores o procurou com a alegação de que precisava fazer um ajuste na mensalidade dos serviços de manutenção: o valor de cinco mil reais passaria a 50 mil reais.

Após meses de discussões bastante tensas, ambas as partes chegaram a um acordo no final de 2008. Desgastes que o CIO considera extremamente desnecessários. Além da perda de tempo, ele afirma que a relação de confiança com o fornecedor fica ameaçada. “Se não estamos atentos às negociações, imagina o que acontece”, diz.

Para o gerente de tecnologia da mineradora AngloGold Ashanti, Pedro Augusto de Oliveira, o maior problema é gerenciar a infinidade de contratos. O executivo conta que os fabricantes só se preocupam em fechar negócios e muitas vezes esquecem de dar apoio na hora da renovação. Há algum tempo, Oliveira só foi descobrir que um contrato tinha vencido quando precisou acionar o suporte.

Os questionamentos do gerente de TI da AngloGold revelam um cenário crítico em toda a cadeia que envolve o processo de aquisição de licenças, e parece estar longe de chegar a uma solução. Com 30 anos na área de informática, a maior perda que considera hoje para os profissionais de TI é se afastar da sua função inicial. “Considero lastimável nos tornarmos cada vez mais financistas e administradores”, afirma Oliveira.

Tarefa difícil? O gerente de infraestrutura em TI de um grande banco, Jayro Caner de Souza, concorda, mas reconhece que essa multiplicidade de contratos é necessária. “Não dá para ficar na mão de um único fabricante. Cada aplicação exige soluções de fornecedores diferentes, os quais mantêm tipos de contratos diferentes”, afirma. Na empresa em que atua, há três tipos de licença – proprietária, aluguel e SaaS. “Software como serviço funciona bem para aplicações de e-mail corporativo, mas em sistemas de missão crítica ainda é preciso algumas evoluções”, diz.

A sócia da área de propriedade intelectual e de tecnologia da informação do escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, Maria Cristina Machado Cortez, revela que há muitos processos de empresas que se sentem lesadas pela forma de precificação das licenças. Ela ressalta a dificuldade de entender o modelo que cobra em partes distintas os valores de aquisição de uma licença e dos serviços de manutenção, implantação e atualização de novas versões (mesmo quando o contrato une todos esses itens em pacote só).

Em geral, Maria Cristina afirma que os casos são levados para arbitragem: a resolução de conflitos deixa de ir para o judiciário – onde o processo é demorado e pode levar anos - e passa para a esfera extrajudicial, onde um árbitro vai decidir pelas partes.

Preferência
Talvez por conta dos desafios, a maioria das empresas usuárias continua optando pelo tradicional modelo de software proprietário – que inclui a compra da licença e os serviços de manutenção. Neste caso, a companhia adquire a versão do produto, transformando-a em um ativo para o “resto da vida”. O valor da licença é pago de uma vez só no momento da aquisição e as correções, atualizações do programa e manutenção têm custo anual.

Em segundo lugar vem o formato de aluguel. A empresa paga apenas pelo uso da ferramenta e não tem a sua “posse”. O valor cobrado é fixo e mensal, como acontece no aluguel de um imóvel, e é estendido por períodos determinados, de acordo com as bases do contrato. Esse modelo divide com o de licença perpétua a demanda das companhias.

Por último, aparece o mais novo modelo de licenciamento, que vem ganhando terreno e aos poucos atrai o interesse das empresas como alternativa ao velho software proprietário: o software como serviço. Recente pesquisa da consultoria Gartner aponta que já em 2012, pelo menos um terço das aplicações de negócios serão contratadas no modelo, no lugar das licenças de software tradicionais.

“É uma questão de tempo”, prevê Bicudo, da TGT Consulting. Para ele, a maior vantagem do modelo “sob demanda” é a possibilidade de se pagar pelo acesso de um uma pessoa a um determinado serviço. Um exemplo. Se a empresa tem 20 usuários e esse número dobra, ela vai pagar exclusivamente por esses 40. Diferente do aluguel, que exige um pagamento fixo mensal.

Menu de ofertas
Para o diretor de vendas técnicas da área de governança da CA (que oferece os três modelos), Francisco Dal Fabro, o formato de software como serviço é interessante por sua flexibilidade. Mas o executivo acredita ser necessária ainda uma evolução no formato que existe atualmente.

Ele ressalta que nem todos os produtos se encaixam nesse modelo e faltam passos para se chegar ao que seria ideal. A cobrança no modelo de software como serviço da CA é feita em 12, 24 e 36 meses. Se em um ano acontece algum tipo de redução, a fabricante consegue renegociar o contrato. Vale ressaltar que para aderir ao modelo, a empresa exige um número mínimo de usuários.

No CA Clarity Project & Portfolio Manager (CA Clarity PPM), por exemplo, o modelo é viável a partir de 100 usuários. A administração do data center onde o software está instalado fica a cargo do fornecedor, bem como a infraestrutura de TI. Além do Clarity PPM, a CA oferece software como serviço em três soluções: gerenciamento de portfólio; financiamento de riscos, conformidades e governança; e processos de backup e armazenamento.

Mesmo sendo a bola da vez, o SaaS ainda permanece na lanterninha de preferência dos clientes da fornecedora. Dal Fabro afirma que o formato tradicional lidera a demanda, com a compra do direito de uso permanente e o pagamento de manutenção, suporte e novos releases.

A Citrix possui dois modelos de cobrança, baseados no formato de licença perpétua. Para a linha de virtualização de servidores (data center), adota o pagamento por licença de servidor físico, independente de processador ou core. Já para a linha de virtualização de aplicativos e desktops, o licenciamento é por usuários concorrentes - número de usuários simultâneos acessando o sistema.

A diretora de vendas e canais da companhia, Érika Ferrara, diz que a vantagem deste modelo é que só se paga pelo número real de usuários que acessam o sistema ao mesmo tempo. Em ambos os casos, o cliente paga a licença de uma única vez, na aquisição. A partir daí, anualmente há o valor correspondente à manutenção e direito à atualização (lançamentos e novidades).

Software como serviço
Seguindo o movimento das empresas em contratar mais serviços, a Citrix entrou no mercado de SaaS, mas “vendendo” licenças para a compra de desktop como serviço, por exemplo, a provedores de acesso e data centers. De acordo com Érika, a fornecedora não atende ao cliente neste modelo. As soluções fazem parte da família Citrix On line.

A SAP, por enquanto, não se rendeu ao SaaS. Mantém os conhecidos modelos de software proprietário e de aluguel. O formato tradicional é o mais adotado por usuários do sistema de gestão, que preferem deter em seu poder as licenças. O valor da solução pode ser desembolsado em um período de três a seis meses e os gastos com manutenção, correções e atualizações são pagos anualmente.

O modelo de aluguel, por sua vez, é aplicado em soluções específicas, a exemplo do CRM (da sigla em inglês, sistema de gestão de relacionamento com clientes). Silmar El-Beck diretor comercial da SAP, destaca que a TI “contrata” o número de licenças de acordo com a quantidade de pessoas que irão usar o CRM e por um determinado período (um ou dois anos).

Outro tipo de licença também é oferecido quando o cliente quer um contrato sob demanda. “Se ele não tem ou não quer manter a estrutura dentro de casa, oferecemos a possibilidade de acesso a aplicação armazenada fora de casa”, afirma El-Beck. A SAP aciona, sob o formato de terceirização, parceiros homologados como HP, IBM e T-Systems, entre outros, que empacotarão tudo e cobrarão mês a mês, de forma facilitada.

Quem vem levantando a bandeira do SaaS e promete quebrar paradigmas é o Google. Suas soluções para o mercado corporativo baseiam-se no formato de aplicações hospedadas em nuvem (cloud computing), com foco em serviços e cobrança anual, por usuário.

De acordo com o diretor do Google Enterprise Brasil, José Nilo, são oferecidas quatro linhas de produtos. A principal delas é o Google Apps, que oferece recursos de e-mail, agenda, calendário, mensagem instantânea (Google Talk), vídeo (que funciona como um YouTube corporativo), ferramenta de documentos (planilha e apresentação), ferramenta para edição de site, antispam e antivírus. Neste modelo, o valor anual pago por usuário gira entre 75 dólares e 80 dólares, incluindo suporte 24 x 7 em português e novas versões.

A Microsoft também está abrindo um cardápio para clientes que querem seus aplicativos rodando na nuvem (softwares antispam e filtro de e-mail, por exemplo). O gerente geral da divisão de produtividade e colaboração da companhia, Eduardo Campos, explica que, ao contrário do que se possa imaginar, o cliente não precisa abandonar o formato de contrato que já possui (seja ele de aluguel ou licença perpétua) para migrar para o modelo de software como serviço.

O maior volume de negócios continua com o tradicional modelo de software proprietário, mas Campos observa que nos últimos anos houve um aumento de clientes que avaliam o modelo de assinatura (aluguel). “Entretanto, quando necessitam de uma atualização mais frequente de softwares, acabam optando pelo formato de licença perpétua e serviços de manutenção”, afirma.

Na mesma linha, a IBM também investe suas fichas na multiplicidade de ofertas. E o SaaS aparece como um grande aliado para o mercado de software de colaboração voltado pra escritórios, com ferramentas de comunicação e e-mail. Em nuvem, a Big Blue possui parceria com a Datasul, empresa do grupo Totvs, onde a fabricante entra com a infraestrutura de data center e a fornecedora com o software.

O pacote é oferecido ao usuário, incluindo manutenção, com uma mensalidade fixa por métrica de negócios. Segundo David Dias, gerente de alianças para a América Latina da companhia, no modelo sob demanda o cliente só paga pela quantidade de usuários. “Se houver uma redução, o valor cai também”, diz. Duas outras parcerias foram formadas – uma com a Comprova e outra com a Elucid – para os serviços de e-mail com autenticação.


Nenhum comentário: