Por Vinicius Cherobino, editor-assistente do COMPUTERWORLD
Dezenas de empresas com pouco menos de 100 funcionários espalhadas pelos maiores mercados do Brasil – como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Grandes contas em finanças, operadoras e tecnologia, entre outras verticais. Taxas de crescimento de 30% a 50%, ano após ano, com receita de algumas dezenas de milhares de reais.
Este cenário poderia ser descrito tranquilamente para o segmento de ERP no Brasil antes da fusão que criou a Totvs em 2005. Poderia valer, também, para o setor de gestão de TI antes das fusões de sete empresas que criou a Virtus no início de 2008.
Trata-se, no entanto, do setor de qualidade e testes de software. Segundo o Gartner, este mercado vai atingir, no mundo, 13 bilhões de dólares em 2010. Ainda que não existam números consolidados no Brasil, uma coisa é certa: as dezenas de companhias seguem espalhadas e competindo umas com as outras. A consolidação é questão de tempo.
Para Pedro Bicudo, sócio da consultoria TGT, apenas as empresas de teste e qualidade de software com atuação forte no setor bancário podem formar um conglomerado - como aconteceu com os grupos Totvs e Virtus. “No segmento financeiro, as companhias possuem ferramentas e métodos mais parecidos, além de ter maior faturamento. Isso justificaria a criação de um conglomerado”, define.
No entanto, se as corporações tiverem atuação em verticais muito diferentes, Bicudo não acredita em união. O maior vilão é a especialização dessas companhias em determinados tipos de sistemas e linguagens de programação. “É difícil esperar que uma empresa conhecida por fazer testes em ambiente SAP tenha as condições, tanto em termos de software quanto de profissionais, para fazer o mesmo em Java”, justifica.
E, como essas companhias têm praticamente o mesmo tamanho, fica difícil imaginar aquisições sem apoio de capital de risco ou de financiamento de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O especialista aponta, contudo, que essa movimentação é em longo prazo, com os primeiros sinais devendo aparecer a partir de 2011. “O processo completo de consolidação nesse setor deve levar pelo menos mais cinco anos”, acredita.
Várias formas de consolidação
Para Pablo Cavalcanti, presidente da Inmetrics, especializada na venda de testes como serviço, a formação de um grupo é possível, mas diz que as discussões estão paradas. “As conversas arrefeceram após a crise”, relata. O executivo vê como desafio garantir que a Inmetrics compre e, não, seja adquirida.
Mauricio Costa e Silva, presidente da Eccox, especializada em testes para mainframes, vê outro cenário. Para ele, as grandes fábricas de software vão começar a comprar empresas do setor em, no máximo, dois anos. “Estamos na fase final para fechar parcerias com três fábricas de software para oferecer testes no desenvolvimento de sistemas”, informa, sem revelar o nome das empresas.
Apesar disso, o executivo garante que a Eccox vai continuar independente. “Estamos nos estruturando para atuar por meio de parcerias, não para sermos comprados. Vamos receber um aporte de private equity de 8 milhões de dólares para garantir essa estratégia”, revela.
Osmar Higashi, sócio-diretor da empresa de testes RSI, também não acredita em um grande grupo formado pelas companhias de teste de software. Para ele, grandes corporações comprando pequenas empresas deste setor é o cenário mais provável. “As grandes vão sair às compras em busca da tecnologia, clientes ou metodologia”, aponta.
Segundo ele, a negociação começaria como uma parceria entre as duas empresas para, a partir daí, se tornar uma compra oficial. Higashi ressalta, contudo, que as desenvolvedoras de software teriam de manter as marcas e as estruturas das empresas de testes separadas, para evitar que os clientes exigissem que um terceiro cuidasse da análise de qualidade. “É comum licitações em que o cliente exige que a codificação seja feita por uma companhia e o teste por outra. Por isso seria necessário manter estruturas separadas”, argumenta.
Independentemente dos rumos do segmento de teste e qualidade de software no Brasil, uma coisa é certa: o setor passa por um rápido processo de amadurecimento. Se, antes, era preciso evangelizar os desenvolvedores sobre a necessidade dos testes, hoje, esse conceito já é comum.
Ainda que esteja longe do ideal - o que seria a adoção de conceitos de qualidade durante o processo de construção do software - o setor aos poucos ganha espaço. “Os clientes são muito tolerantes com os erros em software, mas isso está mudando e rapidamente”, arremata Pedro Bicudo, da TGT Consulting.
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