Por Vinícius Cherobino, editor-assistente do COMPUTERWORLD
Nesta quarta-feira (07/04), a IBM comemora os 45 anos do mainframe. A data marca o início da comercialização do equipamento pela fabricante e a comemoração é justificada. Passados mais de 40 anos, o mainframe continua mostrando seu vigor junto ao mercado corporativo.
Mas sua história começa algumas décadas antes, com a criação do primeiro computador, o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Calculator) para o Exército dos Estados Unidos, em 1946. Mais avançado do que as caixas registradoras e máquinas eletromecânicas, este novo produto usava válvulas, ocupava salas inteiras e pesava 27 toneladas.
A segunda geração da computação, na década de 60, foi marcada pela oferta comercial, utilização de transistores e pela conquista de clientes empresariais além das universidades e agências do governo. Diversas companhias como IBM, Burroughs, UNIVAC, NCR, Control Data, Honeywell, General Electric e RCA iniciavam a disputa por um mercado que amadureceu, e muito, ao longo deste período.
Após a revolução da computação local, que começou na década de 70 e ganhou corpo nos anos 80, a arquitetura cliente-servidor promove a descentralização dos recursos, possibilitada pelo desenvolvimento de servidores mais baratos em x86 ou Risc, entre outras mudanças. Naquele momento, muitos sentenciaram: “o mainframe está morto”.
Hoje, na entrada do século 21, o mainframe continua indiscutivelmente vivo. De acordo com Share, grupo independente de usuários IBM, 70% das aplicações de missões crítica no mundo rodam em plataforma alta. Já a consultoria Ovum afirma que sua capacidade de processamento cresce 20% ao ano, enquanto as empresas consumem em média mais 35% MIPS (milhões de instruções por segundo) por ano. Isso significa compra de máquinas e mercado em expansão.
Para se ter uma ideia, a IBM tem 25 bilhões de dólares de receita de vendas, software, serviços e financiamento originados destas máquinas. O montante significa um quarto do faturamento total da fabricante.
O mainframe não só não está morto como alguns defendem que ele está renascendo em pleno século 21. “A plataforma alta está atraindo os grandes clientes de volta. A possibilidade de usar código aberto, como Linux e Java, reforça o interesse no mainframe”, diz Olímpio Pereira, gerente de vendas de mainframe para América Latina da BMC Software.
A empresa de software, que possui 47% da sua receita mundial de 1,9 bilhão de dólares vinculada ao mainframe, acredita que a plataforma alta está sendo encarada até como concorrente de projetos de virtualização em x86. “As empresas já descobriram os custos ocultos da computação distribuída. Se o cliente tem uma nova aplicação e quer alta disponibilidade e segurança ao mesmo tempo em que mantém um baixo custo de operação, o mainframe é ótima opção”, defende o executivo.
Amilcar Silveira, engenheiro da Attachmate, ressalta que o mainframe está na base de diversos projetos modernizadores nas empresas. “Seja com aplicações como a arquitetura orientada a serviços, SOA, ou com a integração de banco de dados e servidor de aplicações, a plataforma alta não é só legado”, garante.
Silveira conta que a Attachmate tem até 80% do seu faturamento anual, na casa dos 10 milhões de reais, vinculados ao mainframe. “Em nenhum momento, os bancos e operadoras de telecom deixaram de investir na plataforma”, defende.
Mainframe no mundo atual
Paulo Biamino, gerente de TI da Kimberly-Clark, destaca a evolução da área de tecnologia desde a época do mainframe. Ainda que naquele período houvesse “maior disciplina em relação aos processos internos, talvez pelos preços dos equipamentos serem maiores”, o executivo destaca que “não faz qualquer falta o isolamento que a área se submetia, ficando à margem do negócio”.
O CIO ressalta a diferença na quantidade de cursos que formam profissionais especializados em tecnologia. “Naquela época, a maioria dos profissionais saia de engenharia eletrônica, administração, matemática ou ainda física. Hoje, temos uma oferta muito maior e a formação é mais específica”, complementa.
Essa grande variedade de especializações em tecnologia pode, no final, ser nociva ao mainframe. Diversas linguagens de programação clássicas para esse ambiente como Cobol ou Basic não contam com a formação de novos especialistas. “Muitas empresas estão se esforçando para ter novos profissionais em Cobol. Há um risco grande de que a mão-de-obra fique velha e todo o conhecimento fique nas mãos de uma pessoa”, alerta Pereira, da BMC.
Resta saber se os esforços serão suficientes para atender a demanda de profissionais, especialmente se o mainframe estiver renascendo. Dados da Associação Brasileira de Profissionais de Cobol (ABPC), apontam que 80% dos profissionais na linguagem no Brasil têm mais de 15 anos de experiência. Apenas com esta questão resolvida, será possível defender um verdadeiro renascimento do mainframe.
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