quinta-feira, 1 de julho de 2010

CEO da Red Hat: empresas não exploram potencial da tecnologia

Jim Whitehurst alerta os CIOs para as armadilhas embutidas nas promessas da computação em nuvem e questiona a postura da indústria de software proprietário.

Por Network World/EUA
29 de junho de 2010 - 14h18

As melhores experiências oferecidas pelo avanço de TI ainda são experimentadas no ambiente doméstico. Pelo menos, na visão do CEO da empresa de sistemas operacionais Linux Red Hat, Jim Whitehurst.

“Em uma conversa com um CIO, ouvi que 'o Google é o meu maior concorrente' ”, afirmou Whitehurst. Ainda de acordo com ele, esse executivo com o qual falou - e que prefere se manter anônimo - trabalha para uma empresa de logística.

Há alguns meses, o tal CIO foi abordado pelo CMO (Chief Marketing Officer) da sua companhia. Ele queria que a TI criasse um sistema para que os departamentos de marketing de vários países compartilhassem documentos e executassem tarefas de maneira colaborativa.

Depois de consultar os integrantes do departamento de TI da companhia, o CIO voltou a conversar com o executivo de marketing e lhe propôs a realização da tarefa ao custo de 14 milhões de dólares, em um prazo de nove meses.

“Do que você está falando?!” foi a resposta do CMO ao ouvir a proposta do CIO. O executivo do marketing emendou: “Eu estava ajudando minha filha no projeto de escola dela e percebi que fazia tudo usando o Google Docs; se não me engano, o custo era zero”.

O CEO da Red Hat cita essa conversa para ilustrar uma questão mais profunda: o modelo de negócios usado por empresas que adotam plataformas proprietárias está “condenado”.

Os softwares ficam cada vez mais lerdos, mesmo com o avanço na performance do hardware. O motivo disso é que fornecedores de sistemas, como a Microsoft e a Oracle, passam o tempo todo incrementando os pacotes de software com recursos que só são vantajosos para um pequeno grupo de usuários finais.

“Quantas vezes o usuário já foi obrigado a realizar a atualização do sistema, mesmo não tendo qualquer utilidade para os novos recursos implementados? E tudo isso porque, se não comprar a atualização, não pode mais contar com o suporte oferecido pela empresa”, relata Whitehurst.

Para o executivo, isso demonstra um modelo de negócios falido. "Se o produto principal de um fornecedor são os recursos para as plataformas, por que eles não vendem somente os recursos e deixam a cargo dos clientes a aquisição ou não dos complementos?”, justifica.

Nuvens particulares
Isso não quer dizer que a Red Hat não desenvolva os recursos mencionados. Durante um evento nos Estados Unidos, a empresa anunciou a disponibilidade do pacote Cloud Foundations; o nome já revela do que se trata. O produto oferece suporte à formação de nuvens particulares com base na integração de vários serviços do sistema Red Hat Linux.

A organização também aproveitou o evento para anunciar o lançamento do Enterprise Virtualization para Desktops e a versão 2.2 do software de virtualização para servidores.

Mas, de acordo com Whitehurst, a empresa não reajusta o valor do suporte para a versão Server do Red Hat Linux há oito anos. “E nós não inchamos o nosso software, só para fazer mais dinheiro com uma versão nova. Se o cliente é um consumidor, tem garantia de suporte. Ponto.”, diz.

O CEO dá a entender que poderia gerar receita maior, se espremesse os usuários. De acordo com Whitehurst, outras empresas do segmento Linux têm feito mais dinheiro com o sistema que eles. “Temos dez vezes mais sistemas instalados nos servidores que licenças compradas”, diz.

Iate e as nuvensEm um slide seguinte, Whitehurst mostrou um iate enorme, supostamente de propriedade de Larry Ellison (Oracle) e disse “Esse é o iate de um CEO de uma grande empresa de software e, uma dica, não é meu”, disse.

A arquitetura típica de TI em uma empresa costuma ser confusa, intimidadora e conduz muitos CIOs em direção à estratosfera. “A nuvem por si só”, argumenta Whitehurst, “é uma saída 'estratégica pela direita', quando muitos dos problemas internos poderiam ser resolvidos com a disponibilidade das ferramentas apropriadas”.

Os clientes querem arquitetura modular e padrões abertos que possibilitem a portabilidade dos arquivos e dos dados. Se, por um lado, a nuvem oferece essas soluções, ela também pode ser considerada a “maior armadilha de todas”, ao atrair as empresas para o ambiente e, se decidir, não permitir a migração desses serviços de volta para a terra.

A Red Hat é uma das muitas empresas atuantes no segmento de software aberto e proprietário, e afirma fornecer tecnologia com ampla escolha para o consumidor. O cliente pode decidir livremente entre as opções de recursos de hardware ou de software que julgar melhor para a empresa e para os negócios.

Whitehurst afirma que a diferença entre a Red Hat e as outras empresas é que eles trazem junto uma variedade de parcerias com outras companhias.

Apesar de estar envolvida em uma solução de virtualização própria, a Red Hat trabalha em conjunto com a Microsoft e com a VMware para garantir uma integração entre as plataformas e possibilitar que os sistemas operacionais Linux rodem eficientemente em bases ESX e Hyper-v. Nada fora do comum, se admitirmos que é comum vermos sistemas Windows rodando em cima de VMware.
Ao mesmo tempo que o CEO da Red Hat tenta, de certa forma, diminuir o impacto da nuvem, ele lança os softwares de código aberto como solução ideal para esse ambiente. Em resumo, Whitehurst disse que “o software de código fonte aberto é imprescindível para as tendências como o SaaS, a Web 2.0, para a nuvem e a computação em geral; sem a economia gerada pelo uso de software livre essas tendências jamais seriam viáveis”.

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